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quarta-feira, 26 de março de 2014
Só existe comércio onde há demanda: o problema do eloboost no LoL Brasil
Por Caio Teixeira
Muitos condenam, outros tantos pagam pelo serviço. O sucesso do “eloboost” no League of Legends é inevitável, seja positivo ou negativo. A prática é simples: você paga para um jogador melhor que você para ele entrar na sua conta e melhorar suas estatísticas. Praticamente todo o jogo competitivo possui alguma variável do serviço – “Power Level”, no World of Warcraft, é outro exemplo. Para ficar mais claro, é como um dopping de um atleta: ele se utiliza de meios escusos para melhorar sua performance em uma competição. É um melhoramento exagerado de estatísticas em um ambiente que busca apenas melhorias “naturais” de habilidade. O caso é que com o aumento exponencial do sucesso de League of Legends os casos de “elojob” são cada vez mais notórios. Nesta terça-feira (25), o site G1 noticiou que jogadores profissionais foram banidos do jogo por serem prestadores deste tipo de serviço. A Riot Games, desenvolvedora do League of Legends, condena totalmente a prática. “O eloboosting prejudica a experiência dos jogadores em todos os níveis, levando jogadores menos habilidosos a confrontar um oponente muito superior (booster) e também leva jogadores menos experientes a serem colocados em partidas com nível muito avançado, prejudicando a experiência de todos na partida”, afirma o gerente de eSports da Riot Games Brasil, Philipe Monteiro. Para entender melhor como funciona a prática, conversei com um “jobber”, como são conhecidos, e o que descobri foi um mercado em alta e uma “área cinzenta” da legalidade. Só existe oferta... Encontrar os praticantes do chamado MMR Boosting não é uma tarefa fácil. Por mais que o serviço seja utilizado com frequência, ninguém tem coragem de admitir a prática. Seja por vergonha, medo de perder a conta ou até a carreira dentro do cenário competitivo de League of Legends. O dono do site Elo-Rocket, que prefere ser identificado pelo apelido “Sheldon”, comanda uma equipe com 54 jogadores, “e só neste ano já atendemos mais de mil pedidos”, afirma. Sheldon afirma ter apenas 17 anos, mas demonstra tino empresarial apurado: “hoje o Elo-Rocket controla 70% do mercado de ‘boosting’ no Brasil e oferecemos o diferencial de prazo de entrega, sistema de integração entre o jogador (jobber), acompanhamento do boost e atendimento.” Sheldon conta que abriu seu site após ver amigos divulgando o serviço no Mercado Livre, “perguntei se poderia participar, eles falaram que como tinham poucos clientes ‘não’, então criei meu próprio junto com outros amigos, alguns dos quais trabalham comigo até hoje”. O administrador prefere não entrar em detalhes de faturamento, mas afirma ter um bom fluxo de caixa e que se sustenta com o serviço. ... Onde há demanda Enquanto a Riot Games, desenvolvedora de League of Legends, considera a prática e eloboost “anti-jogo”, para Sheldon é um “mal necessário”. “A maioria de nossos jobbers considera isso um meio de entrada para o cenário competitivo de League of Legends. Fazendo MMR Boosting eles ganham dinheiro com o qual podem investir em equipamento, melhorar seu computador para streamar (transmitir partidas) e podem se dar ao luxo de não ter um emprego’ por terem uma renda,” conta o administrador. Se um jogador trabalhar e estudar nunca terá tempo disponível para treinar, League of Legends exige 8 a 10 horas por dia no mínimo para chegar e manter-se no nível competitivo. Uma vez trabalhando como 'jobber' ele não precisa ir a procura de um emprego, dessa forma ele tem o tempo necessário para focar no seguimento de eSports.” Trabalhando nas probabilidades Uma das maiores dúvidas que aparece ao ver os valores dos serviços no site de Sheldon - variando de R$ 6 por vitória com uma conta nível Bronze (mais baixo da liga de League of Legends) a R$ 1.050,00 por uma conta Diamante III (uma das mais altas) com 70 personagens e skins – é como o serviço lida com flutuações inerentes à própria mecânica do jogo. Partidas ranqueadas de League of Legends acontecem entre dois times, com cinco competidores cada. Para vencer, o time precisa avançar dentro da base adversária e derrubá-la. A tarefa requer uma coordenação de equipe e objetivos. Não são raras as vezes que erros de um jogador comprometem a partida do time inteiro. Com isso em mente, como é possível Sheldon garantir vitórias? “Nós somos jogadores de alto nível, alguns tem nível para o cenário competitivo também, dessa forma perdemos poucos jogos, em geral nossos piores jogadores mantém uma win rate (taxa de vitórias) total de 80%, enquanto os melhores giram na casa de 95%.” Divulgação Rotas de League of Legends Para o empresário, conquistar vitórias é “fácil”: “(...) com o tempo trabalhando com isso você aprende o que é necessário para ganhar os jogos independente da situação, em geral os jogadores (jobbers) vão DUO (duplas) na BOT Lane (rota inferior) ou DUO MID (rota central) ou TOP (rota superior) com Jungle e pegam uma grande vantagem no early game (primeiros minutos da partida), feito isso eles continuam puxando até a segunda torre (cada rota possui três torres que protegem o caminho até a base inimiga) e ganhando 2x3 (dois jobbers contra três inimigos), 2x4 (dois jobbers contra quatro inimigos). Dessa forma aliviamos a pressão nas outras rotas e até os jogadores que estavam perdendo acabam recuperando.” Segundo Sheldon, o nível dos jogadores brasileiros é muito baixo. “Até Diamante IV é ‘Elo Hell’ (uma definição criada por jogadores que não conseguem melhorar suas posições dentro das ligas de League of Legends), até mesmo o Challenger está cheio de jogadores ruins, o pior é que eles subiram seu próprio elo. Não existe dificuldade extra nenhuma em subir divisões do Platina ou Diamante mesmo se comparadas as divisões Bronze, Prata, é o mesmo.” Mas para manter uma taxa de vitórias tão alta, como é feita a seleção dos jobbers? Existe algum tipo de treinamento? “Antigamente, quando éramos um grupo menor, eu selecionava os jogadores entre amigos. Hoje, quando abro o recrutamento de novos jogadores, faço o mesmo via indicação de quem já trabalha na Elo-Rocket. O treinamento é somente com orientações de como proceder referente ao sigilo, atendimento e comportamento, a parte do jogo fica por conta deles, mas como eu incentivo a prática de DUO os mais experientes acabam ‘ensinando’ os jogadores mais novos.” Como dito no começo da matéria, o tema do “eloboosting” voltou com força à mídia após jogadores profissionais – dos quais cinco eram da equipe Seven Wars - serem banidos pela prática (a Riot divulgou uma lista dos jogadores banidos). A notícia não foi recebida como uma novidade para Sheldon: “Conhecia sim (os jogadores banidos), toda a Seven Wars jogava pra Elo-Rocket, eles se formaram aqui.” Mas ele também afirma que quando os jogadores começaram a jogar para o campeonato Go4LoL, sob o time “Equipe Rocket”, eles pararam de praticar o eloboost. O caso só mostra o quão infiltrada está a prática. “Como a comunidade condena, a Riot tem que se posicionar. Eles (Riot) sabiam da existência do ELO JOB há muito tempo, sabem também quem o faz e sabem que é necessário para que existam mais jogadores e times no cenário brasileiro. Somente tomaram uma posição recentemente pois uma denuncia atraiu grande atenção do cenário mundial”, diz Sheldon. Leia mais sobre LoL Riot e HBO se unem em campanha de League of Legends e Game of Thrones Com mais de 32 milhões de espectadores, Final de LoL bate recorde “O que nos importa é o nosso público entender o eSport”, diz executivo da Riot Artigo: Eles jogam League of Legends, não videogames Mas, a Riot rebate as acusações: "Trabalhamos desde o lançamento oficial de nosso jogo, no Brasil, na contenção e punição de qualquer atividade que vá contra o nosso Código do Invocador, que estabelece as normas de conduta para todos os jogadores de League of Legends e estabelece a importância de exercer o desportivismo e respeitar os princípios do bom comportamento. Os Termos de Uso do League of Legends proíbem jogadores em realizar o compartilhamento, transferência, venda de contas de usuários ou credenciais de login. Por exemplo, durante a BGS 2012, uma equipe profissional (a 5 LoL Diretoria) foi desclassificada da competição por eloboosting, evidenciando a prática recorrente de punicão para estes casos.
" Mas é Legal?
Para o advogado especialista em Direito Digital, Leonardo Zanatta, os trâmites legais envolvendo banimento de contas e jogadores praticantes de eloboost são complexos e devem ser analisados caso a caso. “Mas não há um respaldo legal, propriamente dito, para a Riot suspender as contas”, afirma. “O que existe são condutas contrárias aos Termos de Uso e Código do Invocador (conjunto de regras do League of Legends) que ensejam um encerramento unilateral do contrato de serviço, ou seja, a Riot exerce um direito seu de suspender ou aplicar punição ao consumidor que estiver violando o contrato.” A prática de eloboosting é contra lei e passível de processo? “Deixo claro que esta é uma opinião aqui exposta é profissional, como advogado, embasada em conhecimento de causa, não adentrando o moralismo que a envolve. A prática de boosting não é contra a lei. Suponhamos a seguinte situação: uma empresa X oferece o serviço de boosting; usuário Y contrata o serviço de X por n reais. Por sua vez a empresa X delega a um jogador Z que desenvolva o serviço. Em termos práticos e legais: - O jogador Y violou o código de conduta e termos de uso cedendo sua conta a terceiros e, portanto, é passível de punição; - O jogador Z violou os mesmos códigos e conduta e termos de uso quando impersonou o jogador Y e, portanto, caso identificado, é passível de punição; - A empresa X está num limbo jurídico-consumerista pois a atividade não pode ser considerada ilegal (não há disposição legal contrária a prática) e trata de uma prestação de serviço.” Para Zanatta, o problema do eloboost é algo mais imoral do que ilegal em si. “Não vislumbro a possibilidade de a Riot ajuizar ação contra qualquer um dos envolvidos. A empresa pode e deve permanecer agindo em uma repressão efetiva destas condutas criando mecanismos de controle mais efetivos e imediatos”, afirma o advogado. Stefano Maccarini Jogadores profissionais de LoL Mas mesmo sendo um jogo grátis é possível gastar dinheiro comprando “skins” (basicamente roupas diferentes para os personagens do jogo). Se algum praticante de eloboost - que, segundo o advogado, não é ilegal – tiver sua conta cheia de skins suspensa, ele pode acionar juridicamente a Riot? “Novamente entramos em uma seara complicada. Por haver uma relação de consumo, compra de RP's (moeda do jogo comprada com Reais), envolvimento monetário real entre as partes, eu vejo, na condição profissional, possibilidade de ajuizar ação para reaver os valores pagos e investidos em skins e serviços in-game caso a conta seja banida sem fundamento. Deveria ser feito um estudo aprofundado da situação real relacionada ao caso concreto para avaliar o binômio possibilidade-rentabilidade de uma ação assim. No entanto, salvo melhor juízo, quem praticou eloboost e teve sua conta banida, violou os termos de uso o que infere-se a possibilidade de encerrar o contrato unilateralmente,” diz Zanatta.
Riot Brasil
Do lado da empresa, eloboost não é uma novidade e é tratado com seriedade. “Existe um departamento na Riot Games responsável por investigar denúncias realizadas por jogadores da comunidade e todos os casos são analisados rigorosamente,” afirma Philipe Monteiro. “Vale ressaltar que esta é uma prática comum em nosso jogo. Periodicamente suspendemos contas de jogadores, tanto amadores como profissionais, visando a melhoria na experiência de nossos jogadores.” “O Código do Invocador estabelece as normas de conduta para todos os jogadores de League of Legends e estabelece a importância de exercer o desportivismo e respeitar os princípios do bom comportamento. Os Termos de Uso do League of Legends proíbem jogadores em realizar o compartilhamento, transferência, venda de contas de usuários ou credenciais de login.”
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